Os novos gelados Quinta dos Açores querem marcar a cultura gastronómica das nove ilhas através de um produto de qualidade “único” numa lógica de comercialização quer nas grandes superfícies comerciais como nas pequenas gelatarias. Quem resistirá a um gelado Dona Amélia ou a um gelado Queijada da Graciosa? O projecto quer ainda baptizar um gelado por ilha e atingir mercados além ilhas. A “Olhar o Mundo Rural” dá-lhe a experimentar alguns dos sabores.
“Vai ser um gelado de primeira gama, considerado um premium, com grande valor nutritivo e comercial” – esta é a definição alargada dos novos gelados Quinta dos Açores feita por Helga Barcelos, sócia-gerente da Açorcarnes, do Grupo Barcelos, empresa que acaba de lançar no mercado uma nova gama de produtos lacticínios a partir da recentemente instalada fábrica nos arredores de Angra do Heroísmo.
Tem, à partida, uma capacidade instalada de produção de 1000 litros de gelado por dia, mas para já, em fase de arranque, o valor a atingir será entre dois a três mil litros de gelado por semana.
Trata-se de um projecto económico apoiado pela GRATER que quer chegar além ilhas: “temos três mercados alvo: o regional, nos Açores, o nacional e o da Madeira”, disse a empresária que não esconde a vontade de uma incursão pelos circuitos da diáspora açoriana nos Estados Unidos da América, até porque já tem em preparação a certificação da Food and Drug Administration (FDA).
Ao todo, são quatro os tipos de embalagem dos gelados Quinta dos Açores que na sua composição terão entre 10 a 15 por cento de gordura: 150 ml e 500 ml para o consumidor final; 2,5 litros para a restauração; e 5 litros para o serviço de vitrina nas gelatarias. Isto porque o Grupo Barcelos quer competir com as principais marcas de gelados nacionais e montar o seu equipamento próprio junto dos restaurantes, cafés, etc., através do franchising da sua marca certificada.
Gelado ao lanche
Além da aposta nas redes de comercialização e numa campanha de marketing específica para os produtos Quinta dos Açores, a estratégia passa igualmente para uma mudança de hábitos de consumo: “gostávamos de mudar os hábitos de consumo e fazer com que as pessoas comam gelados ser só no Verão. O gelado deve ser visto como um lanche nutritivo porque, do ponto de vista alimentar, é extremamente completo, é um excelente produto lácteo, tem todos os nutrientes necessários e ideais para o crescimento, por exemplo, de uma criança”, como já verifica noutras paragens geográficas: “os países nórdicos têm por hábitos consumirem gelados ao lanche”.
Em termos de investimento, esta nova produção de gelados resulta de cerca de 250 mil euros em equipamento que consistem em duas tinas de pasteurização, homogeneizador, um freezer em contínuo, quatro tanques de maturação, uma embaladora de gelados, uma torre de esfriamento e dosificadores de fruta e pastas.
Ao todo, em termos de recursos humanos, estão a trabalhar na equipa de lacticínios entre 6 a 8 funcionários na unidade fabril localizada no Reguinho, na freguesia de São Bento.
Gerar valor acrescentado
Hoje em dia, explica Helga Barcelos, “os gelados são dos produtos com maior valor acrescentado no sector dos lacticínios, mas regra geral, as grandes empresas de gelados compram as bases feitas e adicionam leite e água. Aqui, nos gelados Quinta dos Açores nós fazemos a própria formulação de base dos gelados, controlamos todas as matérias-primas e todos os processos”.
Até porque, entende “em época de crise, é importante que as empresas invistam em produtos de valor acrescentado, foi essa a principal intenção com os nossos gelados”.
os gelados são dos produtos com maior valor acrescentado no sector dos lacticínios, mas regra geral, as grandes empresas de gelados compram as bases feitas e adicionam leite e água. Aqui, nos gelados Quinta dos Açores nós fazemos a própria formulação de base dos gelados, controlamos todas as matérias-primas e todos os processos
De referir que, em termos de lacticínios, o Grupo Barcelos apostou igualmente no lançamento de novos produtos: do leite fresco micro filtrado, de leites fermentados e iogurtes de beber e de queijos fresco e de pasta mole (ver novas embalagens).
Uma escolha que, segundo a administradora, refere assentar sobretudo na inovação, na preocupação com a não duplicação de produtos já existentes, mas igualmente no respeito pelas outras empresas: “é um respeito por toda a indústria dos Açores. É importante que se tente produzir produtos que sejam complementares e não concorrenciais com outras empresas para que se possam atingir diferentes mercados e exportar o máximo possível”.
GRATER acarinhou o projecto
Para Helga Barcelos “a GRATER tem desenvolvido um trabalho muito interessante no desenvolvimento das zonas onde intervém”, referindo que, no caso em concreto dos gelados, obteve a aceitação que procuraram e não encontraram no projecto inicial: “este projecto inseriu-se num programa de apoio aos lacticínios que entrou na medida 1.7 do Prorural. Tínhamos diferentes produtos lácteos: o leite, os iogurtes e leites fermentados, os queijos e os gelados. Os gelados não foram aceites como produto lácteo. A legislação portuguesa, mesmo em termos de CAE (Classificação portuguesa de Actividade Económicas) separa os gelados dos produtos lácteos, ao contrário dos restantes países do mundo. Se formos à legislação americana e de outros países europeus, os gelados são encarados como um produto lácteo. Por isso, não aceitaram os gelados dentro desse programa e retiraram o apoio. Esse princípio está errado. O gelado é um produto lácteo. Assim, nós candidatamo-nos à GRATER e aí, sim, foi aceite a produção de gelados”.
Segundo a responsável, a Associação “acarinhou de imediato o projecto”: “sentimos, da parte da GRATER, que acarinharam de imediato o projecto. Perceberam a importância e a mais-valia desse produto para região”.
O projecto foi apoiado a 60 por cento pelo Eixo 3 do PRORURAL, através da GRATER, permitindo um financiamento de 90 mil euros para aquisição da gama principal de equipamentos, design e confecção de embalagens.
“Os Açores têm uma imagem muito positiva sobretudo no mercado continental e temos de fazer uso dessa imagem e levar o nosso produto de qualidade ao encontro desse consumidor. Nós acreditamos que aliar um produto tão saboroso, que já começa a ter procura, à marca Açores e a matérias-primas de qualidade, como são as açorianas, vai trazer vantagens competitivas muito grandes a estes produtos e a região”.
Nove ilhas com nove sabores
Os gelados Quinta dos Açores querem ser uma referência na cultura gastronómica insular. É por isso que lançam o gelado Dona Amélia e o gelado Queijada da Graciosa, a par dos tradicionais sabores do chocolate, da baunilha – com a particularidade destas matérias-primas virem do Equador e de Madagáscar, respectivamente –, do morango (com recurso a fruta local) e do doce de leite.
Seis sabores que não se ficam por aqui. Helga Barcelos, sócia-gerente da empresa Açorcarnes, do Grupo Barcelos, explica que a gama de sabores só fica completa com “um gelado representativo de cada ilha”.
Assim, não poderia faltar o gelado de ananás de São Miguel, o de meloa de Santa Maria, o do Mel do Pico, o das espécies de São Jorge, o do gin tónico do Faial, o de araçá das Flores e o de amora do Corvo.
“Vão ser produtos únicos”, referiu a porta-voz do Grupo Barcelos que espera que toda a cadeia económica envolvida perceba o alcance destes gelados: “queremos que os empresários açorianos percebam a importância de se vender um gelado dos Açores, em vez de outras marcas”, referindo-se não só à questão da promoção turística, como de consumo dos lacticínios açorianos.
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